Erthos
Albino de Souza
Biografia
Erthos Albino de Souza (Ubá MG 1932 - Juiz de
Fora MG 2000). Poeta e artista gráfico. Formado em engenharia, utiliza a física
e a matemática em sua criação poética. É um dos primeiros autores brasileiros a
empregar o computador na elaboração de seus poemas. Em Salvador, edita a
revista literária Código, uma das mais importantes publicações de vanguarda do
período, da qual saem 12 edições, entre 1974 e 1990. Como pesquisador, colabora
com Augusto de Campos(1931) e Haroldo de Campos (1929 - 2003) no levantamento
de referências bibliográficas para os livros Re-Visão de Sousândre, Re-Visão de
Kilkerry e Pagu: Vida-Obra. Colabora em revistas como Polem, Muda, Artéria e
Qorpo Estranho e participa de antologias como 25 Poetas / Bahia.
Importância da sua Obra:
O mais radical dos poetas brasileiros, Erthos
Albino de Souza tem o duplo mérito de, por um lado, dirigir uma das mais
importantes revistas brasileiras de poesia de vanguarda (Código, editada em
Salvador) e, de outro, ter desenvolvido técnicas de dessemantização de textos,
por meio da introdução em seus corpos de taxas controladas de ruídos, de modo a
fazer degenerar mensagens previamente construídas. Engenheiro de formação, ele
aplicava modelos conceituais matemáticos ou físicos à construção ou
desconstrução de textos. O poema gráfico Le Tombeau de Mallarmé é uma boa
demonstração desse processo. O poeta elaborou um programa de distribuição de
temperaturas e o aplicou a um fluido aquecido que corre no interior de uma
tubulação. Esse programa permitia obter um desenho das diferentes temperaturas
do fluido nas diversas secções da tubulação, mas como o poeta-engenheiro
codificou o seu sistema gráfico de modo a que cada fase de temperaturas
correspondesse a uma das letras do nome de Mallarmé, o resultado é um gráfico
em que as letras se dispõem no espaço formando configurações que lembram
imaginariamente o "túmulo" de Mallarmé. Aquecendo o fluido a
temperaturas diferentes, ele obteve diferentes esquemas gráficos e, portanto,
várias configurações do nome de Mallarmé, donde a seqüência gráfica que compõe
o poema.
O poema mais conhecido de Erthos
Albino de Souza é Le Tombeau de Mallarmé, publicado em 1974. Essa composição é
uma série de variações gráficas executadas por computador, em que as letras iniciais
do sobrenome do autor francês são distribuídas espacialmente, formando arranjos
visuais que sugerem a imagem de um túmulo ou estela, como observa Haroldo de
Campos.1
Essas variações foram criadas com
base na resolução de um problema de física sobre a distribuição de temperatura
numa tubulação, o que indica a forte proximidade entre poesia, ciência e
tecnologia na obra do poeta, amigo e colaborador dos concretistas do grupo
Noigandres, de São Paulo. Conforme escreve Carlos Ávila, Erthos tem grande importância
como incentivador de uma geração de poetas construtivos brasileiros. Seu
trabalho como editor da revista Código, do início dos anos 1970 até 1990, é
fundamental para a formação e divulgação de autores como Pedro Xisto (1901 - 1987), José Lino Grunewald (1931 - 2000), Antonio
Risério, Duda Machado, Paulo Leminski (1944 - 1989) e Alice Ruiz (1946).
Omar Khouri, em seu livro Revistas
na Era do Pós-Verso, afirma que Erthos Albino de Souza, apesar de poeta,
"nunca se esforçou para aparecer enquanto tal, preocupando-se mais com
editar o trabalho alheio, sendo de uma generosidade rara. Ajudou a editar
muitos trabalhos de poesia e metalinguagem. Em Invenção, já aparece como
colaborador. Poeta que opera nos interstícios dos Códigos/linguagens, veicula
em seu trabalho nesgas de informação, primando pelas sutilezas, onde o verbal
se funde com o visual: é verdadeiramente um poeta intersemiótico".2
Usando computadores em seu
processo de criação, Erthos elabora muitos poemas que se distinguem pelo modo
coerente como incorporam as novas tecnologias, como se vê no trabalho em que
utiliza fotos de Brigitte Bardot, cuja imagem, construída com letras, vai
gradativamente se desmanchando.
O poeta não publica nenhum livro
em vida; todos os seus poemas são veiculados em revistas de vanguarda da época,
com pequenas tiragens e restrita circulação. Carlos Ávila, em seu trabalho O
Engenheiro da Poesia, que inclui uma entrevista realizada com Erthos Albino (no
livro Poesia Pensada), faz um levantamento de seus poemas publicados, um total
de 23, entre eles Step by Step e Púbis (revista Qorpo Estranho nº 1),
Androgynous (Jornal Dobrabil), Louvação para Pagu (revista Artéria) e Drapoeil
(revista Muda).
Além das próprias composições
poéticas, Erthos Albino de Souza colabora na execução gráfica ou digital de
poemas de outros autores, como Vogaláxia, de Pedro Xisto, Cidade, de Augusto de
Campos, e Mundo Livre, de Haroldo de Campos. Como pesquisador, tem atuação
relevante no levantamento bibliográfico de autores inventivos do passado, como
o maranhense Sousândrade
(1833 - 1902), o baiano Pedro
Kilkerry (1885 - 1917) e a paulista Patrícia
Galvão - Pagu (1910 - 1962).
Referências:
Acessado 24/03/2014
Acessado 24/03/2014
Obra: Le
Tombeau de Mallarmé
É um pioneiro, pois não deve ter sido muito fácil utilizar o computador nessa época e o fez com grande valia..
ResponderExcluirDevemos valorizar o trabalho dos artistas brasileiros. Há anos atrás já se pensa em arte tecnologia. Ass. Rosana Lima
ResponderExcluirEngenheiro da poesia, muito bom seu trabalho...
ResponderExcluirMe fez lembrar um pouco do Valdemar Cordeiro.
Fabiana.
É interessante a forma que esse artista utiliza da física e matemática para construção de seus conceitos.
ResponderExcluirO que me encantou neste artista foi a humildade, pois apesar de ser um gênio, valorizou o trabalho do próximo. Verenice Teixeira
ResponderExcluirgostei do lado contestador, principalmente por ser na terra dos coronéis. Cool!
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