terça-feira, 15 de abril de 2014

Erthos Albino de Souza



                                            Erthos Albino de Souza 


Biografia
Erthos Albino de Souza (Ubá MG 1932 - Juiz de Fora MG 2000). Poeta e artista gráfico. Formado em engenharia, utiliza a física e a matemática em sua criação poética. É um dos primeiros autores brasileiros a empregar o computador na elaboração de seus poemas. Em Salvador, edita a revista literária Código, uma das mais importantes publicações de vanguarda do período, da qual saem 12 edições, entre 1974 e 1990. Como pesquisador, colabora com Augusto de Campos(1931) e Haroldo de Campos (1929 - 2003) no levantamento de referências bibliográficas para os livros Re-Visão de Sousândre, Re-Visão de Kilkerry e Pagu: Vida-Obra. Colabora em revistas como Polem, Muda, Artéria e Qorpo Estranho e participa de antologias como 25 Poetas / Bahia.
Importância da sua Obra:
O mais radical dos poetas brasileiros, Erthos Albino de Souza tem o duplo mérito de, por um lado, dirigir uma das mais importantes revistas brasileiras de poesia de vanguarda (Código, editada em Salvador) e, de outro, ter desenvolvido técnicas de dessemantização de textos, por meio da introdução em seus corpos de taxas controladas de ruídos, de modo a fazer degenerar mensagens previamente construídas. Engenheiro de formação, ele aplicava modelos conceituais matemáticos ou físicos à construção ou desconstrução de textos. O poema gráfico Le Tombeau de Mallarmé é uma boa demonstração desse processo. O poeta elaborou um programa de distribuição de temperaturas e o aplicou a um fluido aquecido que corre no interior de uma tubulação. Esse programa permitia obter um desenho das diferentes temperaturas do fluido nas diversas secções da tubulação, mas como o poeta-engenheiro codificou o seu sistema gráfico de modo a que cada fase de temperaturas correspondesse a uma das letras do nome de Mallarmé, o resultado é um gráfico em que as letras se dispõem no espaço formando configurações que lembram imaginariamente o "túmulo" de Mallarmé. Aquecendo o fluido a temperaturas diferentes, ele obteve diferentes esquemas gráficos e, portanto, várias configurações do nome de Mallarmé, donde a seqüência gráfica que compõe o poema.
O poema mais conhecido de Erthos Albino de Souza é Le Tombeau de Mallarmé, publicado em 1974. Essa composição é uma série de variações gráficas executadas por computador, em que as letras iniciais do sobrenome do autor francês são distribuídas espacialmente, formando arranjos visuais que sugerem a imagem de um túmulo ou estela, como observa Haroldo de Campos.1
Essas variações foram criadas com base na resolução de um problema de física sobre a distribuição de temperatura numa tubulação, o que indica a forte proximidade entre poesia, ciência e tecnologia na obra do poeta, amigo e colaborador dos concretistas do grupo Noigandres, de São Paulo. Conforme escreve Carlos Ávila, Erthos tem grande importância como incentivador de uma geração de poetas construtivos brasileiros. Seu trabalho como editor da revista Código, do início dos anos 1970 até 1990, é fundamental para a formação e divulgação de autores como Pedro Xisto (1901 - 1987), José Lino Grunewald (1931 - 2000), Antonio Risério, Duda Machado, Paulo Leminski (1944 - 1989) e Alice Ruiz (1946).
Omar Khouri, em seu livro Revistas na Era do Pós-Verso, afirma que Erthos Albino de Souza, apesar de poeta, "nunca se esforçou para aparecer enquanto tal, preocupando-se mais com editar o trabalho alheio, sendo de uma generosidade rara. Ajudou a editar muitos trabalhos de poesia e metalinguagem. Em Invenção, já aparece como colaborador. Poeta que opera nos interstícios dos Códigos/linguagens, veicula em seu trabalho nesgas de informação, primando pelas sutilezas, onde o verbal se funde com o visual: é verdadeiramente um poeta intersemiótico".2
Usando computadores em seu processo de criação, Erthos elabora muitos poemas que se distinguem pelo modo coerente como incorporam as novas tecnologias, como se vê no trabalho em que utiliza fotos de Brigitte Bardot, cuja imagem, construída com letras, vai gradativamente se desmanchando.
O poeta não publica nenhum livro em vida; todos os seus poemas são veiculados em revistas de vanguarda da época, com pequenas tiragens e restrita circulação. Carlos Ávila, em seu trabalho O Engenheiro da Poesia, que inclui uma entrevista realizada com Erthos Albino (no livro Poesia Pensada), faz um levantamento de seus poemas publicados, um total de 23, entre eles Step by Step e Púbis (revista Qorpo Estranho nº 1), Androgynous (Jornal Dobrabil), Louvação para Pagu (revista Artéria) e Drapoeil (revista Muda).
Além das próprias composições poéticas, Erthos Albino de Souza colabora na execução gráfica ou digital de poemas de outros autores, como Vogaláxia, de Pedro Xisto, Cidade, de Augusto de Campos, e Mundo Livre, de Haroldo de Campos. Como pesquisador, tem atuação relevante no levantamento bibliográfico de autores inventivos do passado, como o maranhense Sousândrade (1833 - 1902), o baiano Pedro Kilkerry (1885 - 1917) e a paulista Patrícia Galvão - Pagu (1910 - 1962).

Referências:
Acessado 24/03/2014
Acessado 24/03/2014


Obra: Le Tombeau de Mallarmé


6 comentários:

  1. É um pioneiro, pois não deve ter sido muito fácil utilizar o computador nessa época e o fez com grande valia..

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  2. Devemos valorizar o trabalho dos artistas brasileiros. Há anos atrás já se pensa em arte tecnologia. Ass. Rosana Lima

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  3. Engenheiro da poesia, muito bom seu trabalho...
    Me fez lembrar um pouco do Valdemar Cordeiro.

    Fabiana.

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  4. É interessante a forma que esse artista utiliza da física e matemática para construção de seus conceitos.

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  5. O que me encantou neste artista foi a humildade, pois apesar de ser um gênio, valorizou o trabalho do próximo. Verenice Teixeira

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  6. gostei do lado contestador, principalmente por ser na terra dos coronéis. Cool!

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